Total de visualizações de página

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Algo inteligente sobre a depressão e problemas

CARTA DE PAULO GALVÃO PARA A AMIGA RUTE.

Minha cara Rute,
Você deve estar desorientada pela inexperiência em lidar com depressões, mas — se isso te servir de algum consolo — depressão é a doença do século XXI. Um número cada vez maior de pessoas tem sido vítima desse problema sério.
O importante é, primeiro, resistir à fase aguda, pois ela pega o sujeito de surpresa e, pela inexperiência, a gente fica atordoado e costuma perder a orientação. Conheço pessoas que largaram tudo o que estavam fazendo, inclusive parando estudos universitários quase findos, porque de repente foram tolhidas pela depressão.
Vou tentar lhe passar algum elemento de ajuda. No livro "Deficiencias y propensiones del ser humano", González Pecotche assim começa o disgnóstico de uma propensão que leva fatalmente à deprê: a propensão ao desalento que, ensina ele, "cunde en el ser por fracasos o reveses reiterados". Acho que o seu caso é de um revés único, porém muito violento e repentino.
Também nos diz Pecotche que ela "se manifiesta como incapacidad del sujeto para afrontar situaciones penosas, sumándose a ello la incomprensión de lo que le sucede, cuyas causas a menudo presume ajenas a sus culpas".
Em geral as pessoas se acham muito fortes — quando estão bem. Porém basta que algo ruim lhes aconteça de manhã cedo para logo exclamarem: "Estragou meu dia!" Pense bem o que ocorreria se o problema fosse sério mesmo. Na verdade, o principal inimigo está dentro de nós: a incapacidade para enfrentar situações penosas, para resistir e buscar dentro de si mesmo a força para arrojá-las e vencer na luta.
Nós temos uma capacidade moral que só aparece mesmo nos momentos mais difíceis, quando descobrimos que nossos recursos eram muito maiores do que pensávamos. Por que criar obstáculos ao surgimento deles quando necessitamos encontrar a força moral dentro de nós mesmos?
Nesse momento, acho que o mais importante é mesmo resistir, reunir forças para, passado o susto inicial — a fase aguda —, você conseguir reagir com a cabeça erguida.
Também é importante nunca pensar nesses intervalos de tristeza profunda. "Pensar" significa, nesse caso, trazer à mente seus principais propósitos, criados pela função de pensar, e tomar decisões a respeito deles. Se a pessoa pensa em seus propósitos nestas situações, nenhum deles lhe parecerá válido. Conheço um rapaz que estudava Engenharia no último ano, e largou tudo quando perdeu sua mãe; uma moça que estudava Letras na Federal, já quase no final do curso, também trancou a matrícula por causa da depressão que lhe destruiu o ânimo. Nesses momentos, como ensina González Pecotche: "La inclinación del ánimo al desaliento invalida un tanto la faculdad de pensar y oprime la sensibilidad, privándola de una de sus manifestaciones más bellas: la que hace reverdecer las esperanzas y mantiene vivo el anhelo de un futuro mejor".
Meu conselho, então, é que agora você não tome nenhuma decisão que comprometerá seu futuro. Você deve se concentrar numa coisa apenas: resistir a esse "tsunami", diminuir seu tamanho, até torná-la uma onda comum. Para isto você vai precisar de muita paciência.
Como lhe disse, o importante é não aumentar o problema, mas diminuir seu tamanho. Infelizmente, existe outra propensão denominada "Ao desespero", descrita por Pecotche também. Em um parágrafo ele ensina:
"Acompaña por lo general al propenso un pensamiento obsesionante que le hace ver todos sus males como irreparables y sus problemas imposibles de resolver. Este sujeto revela impaciencia, inseguridad y gran descontrol mental, factores éstos que confluyen en desasosiego, cuyo escape es el estallido nervioso. Llegado a este punto crítico, el afectado acusa un sensible debilitamiento de la voluntad".
As pessoas que se desesperam e desistem de tudo nas fases depressivas foram tomadas por este pensamento terrível: a propensão ao desespero. É preciso impedir que ele atue nestas situações de grande sofrimento.
Sei que não é fácil enfrentar uma depressão tão violenta como esta que te acossa no momento, mas ofereço minha ajuda para lhe transmitir tudo que conheço a respeito dessa doença.


Um abraço do amigo, Paulo Galvão
(*) foram mantidas as citações do livro em questão em espanhol que é o idioma original.

Nenhum comentário:

Postar um comentário