Retrocedemos 500 mil anos terrestres. Aí incia a estória.
Não há religião. Existe Deus.
Eu e você fazemos parte de um grupo de uns 30 seres. Homens, mulheres e crianças.
Vida dura.Planeta vulcânico feroz. Imensos animais. Grandes tempestades.
Moramos numa caverna junto a um maravilhoso vale ao longo de
um rio.
Apesar desses perigos não temos opção. Sairemos para
caçar logo que o dia clarear.
Não sabemos falar direito, mas pelas expressões faciais nos
entendíamos perfeitamente.
Algo em nós vinha mudando.Nossa inteligência vinha crescendo.
(*)
Era costume antigo abandonarmos quem ficasse doente. Cuidar dele
poderia significar a nossa morte, pois tínhamos que retornar à caverna antes do
anoitecer. Se algum morresse ficaria largado no caminho, sem mais e seria
devorado pelas feras.
Um fato excepcional ocorreu. Fato histórico.
Hoje, eu e você, enterramos pela primeira vez no planeta Terra,
um dos nossos que morreu na luta contra um animal. Não foi abandonado como era hábito há milhões de anos.
Fizemos um buraco e lá colocamos o companheiro e todo o
grupo reuniu-se em volta por um instante, como uma reverência ao que se foi. Houve uma imensa razão fantástica para esse acontecimento.
Marcamos o local com uma pedra para voltar ali quando quiséssemos
visitar o túmulo.
Fomos embora.
Com o advento da consciência individual na época (**) mostrando que tínhamos
vida interna e sentimentos, olhamos um para o outro, eu e você, e ficou
expresso nas nossas fisionomias o que tínhamos compreendido dentro de nós
mesmos, recentemente e pela primeira vez através dos séculos:
"Nós dois jamais abandonaremos os seres que aparentemente
apenas viviam, mas sabemos que continuam existindo através da eternidade". Continham já em vida a eternidade mesma... Como nós dois.
Paulo R P Menezes.
(*) Blainey.
(**) Pecotche.